sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sócrates, O Mãos Largas

O novo estádio da cidade de Al-Kahder, nos arredores de Belém, na Cisjordânia, cuja construção foi financiada por Portugal, através do Instituto Português de Cooperação para o desenvolvimento, vai ser inaugurado na próxima segunda-feira.

O recinto custou dois milhões de dólares, tem capacidade para seis mil espectadores, é certificado pela FIFA e dispõe de piso sintético e iluminação. A cerimónia de inauguração abrirá com uma marcha de escuteiros locais, conduzindo as bandeiras de Portugal e da Palestina, e a execução dos respectivos hinos nacionais. Já fechámos urgências, maternidades, centros de saúde e escolas primárias, mas oferecemos um estádio à Palestina.

Devíamos fechar o Hospital de Santa Maria e oferecer um pavilhão multiusos ao Afeganistão.

A seguir fechávamos a cidade universitária e oferecíamos um complexo olímpico (também com estádio) à Somália e por último fechávamos a Assembleia da República e oferecíamos os nossos políticos aos crocodilos do Nilo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Desire


Na noite cálida, o resvalar dos olhares perante a indiferença dos sentimentos alheios, a dualidade que se reflecte no olhar empobrecido de falsa tentação.

Os corpos revitalizados pelo suco vertiginoso que se eleva no acto libidinoso.

O exsudado que percorre entre o seio da voluptuosidade consumando o acto da contiguidade.
Os aromas que se misturam, brotam na sua decadência mortal.

O âmago que se desprende do hábito imoral, e as vestes que se exalam perante o toque libertino.

No romper do crepúsculo os corpos amanhecem, figurando a apetecível consolação.
by summerparis

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

The Key to Reserva: Hitchcock

Imaginem o que seria encontrar um guiao perdido do genial cineasta Alfred Hitchcock. Aconteceu com Martin Scorcese, especialista em recuperar filmes antigos.

Uma adaptação ao que seria uma curta metragem ou um "simples" anúncio, Scorcese dá asas á sua criatividade tentando recriar a visão das páginas perdidas de Hitchcock.

A realização passa-se no famoso Carnegie Hall em Nova Iorque, acompanhado do som do compositor Bernard Herrman, parceiro de Hitchcock. Simon Baker e Kelli O`Hara formam o par central, escolhidos pelas lembranças físicas de Cary Grant e Grace Kelly.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Thomas Jefferson

Amarra firme a razão ao seu assento e submete ao seu tribunal cada facto, cada opinião. Com arrojo, questiona até a existência de um Deus; porque se existir, ele há-de mais depressa aprovar a homenagem da razão do que a do medo vendado.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Ano novo, vida nova! Será?



















Pois é, ano novo, vida nova. Ou será ano novo, vida velha? Se calhar o conceito da “vida nova” devia ser atribuído apenas àqueles que estão de malas feitas para outro destino que não este Portugal senão vejamos.

Segundo os números do INE, a inflação já ia, em Outubro, em 2,4%, contra os 2,1% previstos no Orçamento de Estado de 2007. Deste modo se os salários e pensões, forem "actualizados" a 2,1%, estamos já a perder mais de 0,3%. Para este ano, o Ministério das Finanças repetiu o episódio dos 2,1% enquanto a realidade, indiferente, continua a ir (e ainda estamos em 2 de Janeiro) por aí fora. Já todos ouvimos falar nos aumentos no início do ano, aliás estamos de tal forma habituados a eles que quase já nem lhes damos a devida atenção. Aqui ficam os principais aumentos para 2008: transportes 3,9%, gás 3,6%, electricidade 3,6%, portagens 2,94%, pão 30%, leite 12% (...)

Tudo aumentos superiores ao valor da inflação, se calhar as principais empresas portuguesas fecharam o ano com saldos negativos e daí estes aumentos. Será? Lembrei-me de fazer uma pesquisa para aferir como tinha corrido o ano às principais empresas nas edições online dos principais jornais portugueses nomeadamente Jornal de Notícias, Diário Económico, Público e Jornal de Negócios. Cheguei a estes valores:

-Brisa regista lucro de 142,5 milhões de euros entre Janeiro e Setembro;

-A Galp Energia atingiu, nos primeiros nove meses de 2007, um lucro líquido ajustado de 377 milhões de euros;

-Lucro dos cinco maiores bancos soma 2200 milhões de euros sendo que o resultado líquido da CGD foi o mais elevado, de 675 milhões de euros;

-A EDP registou lucros de 665,2 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano;-

A Portugal Telecom registou lucros de 429,1 milhões de euros no primeiro semestre de 2007.

Humm.. não é que eu perceba muito de economia mas quer-me parecer que se calhar o ano deles não foi assim tão mau quanto isso.

Ontem o Presidente da República fez o discurso de ano novo descrevendo o ano transacto. Em relação à Economia disse, “O ano foi difícil mas todos gostaríamos que a evolução económica e social tivesse sido mais positiva”. Relativamente à Justiça continuou dizendo, “Ainda é um obstáculo ao progresso do país”. No que diz respeito à Saúde, “Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o país em matéria de cuidados de saúde”. Quanto ao Desemprego, “Atingiu níveis preocupantes. Muitas famílias enfrentam sérias dificuldades para fazer face às suas despesas”. Há uma expressão, que agora não me estou a lembrar, que consegue resumir todas as opiniões do Presidente, mas agora está mesmo a falhar-me... acho que tinha qualquer coisa a ver com “mas que bela merda de ano que tivemos!”. Sim, acho que era isso! Basicamente o único ponto positivo apontado foi a assinatura dum tratado que ninguém percebeu em que bases assentava, o tal Tratado de Lisboa. “Portugal saiu prestigiado da Presidência da União Europeia”.

Outro apontamento de Cavaco prende-se com a sua "inquietude" perante as desigualdades na distribuição do rendimento "Interrogo-me sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores". O licenciado em economia interroga-se... será mesmo verdade? Será que existe desigualdade na distribuição dos rendimentos? Fui novamente pesquisar. Segundo o Diário Económico: “Os 20% de portugueses mais ricos ganham, juntos, sete vezes mais que os 20% mais pobres. A média da União Europeia é de uma desproporção de 4,6 vezes. Portugal é o país com maior desigualdade entre ricos e pobres. Um quinto dos portugueses vive abaixo do limiar da pobreza. O documento subscrito salienta também que as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto nacional, pelo que o país tem a pior distribuição de riqueza no seio da UE com os 20% mais ricos a controlar 45,9% do rendimento nacional.”Oh Aníbal desculpa lá dizer isto mas sem querer ofender ninguém... e se te fosses foder mais essa interrogação? Se calhar o nosso Presidente da República interroga-se acerca da discrepância de rendimentos porque esquece-se que um desses rendimentos injustificados e desproporcionados também é o dele.

A questão é que todos sabemos que os sacrifícios duram há demasiado tempo e não é certo que algum dia atinjamos os níveis europeus. O ano é novo mas vamos continuar a ser o país da Europa com maior índice de abandono escolar, analfabetismo e corrupção.

Vá lá que este ano não vão faltar eventos de entretenimento. Temos já aí à porta o Lisboa – Dakar, depois o Rock in Rio, o Europeu de Futebol e os Jogos Olímpicos. Não faltarão oportunidades para nos sentirmos os “maiores desta merda toda!”.

Continuem a explorar-nos o mais que poderem, continuem a construir os maiores Centros Comerciais da Europa e a encerrar Maternidades, Serviços de Urgência, e Escolas. Em troca só pedimos uma coisa: que as lojas chinesas vendam a bandeira de Portugal por não mais que 2 euritos para em meados de Junho a colocarmos na varanda e gritarmos alegremente “Viva Portugal!”

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Desassossego


O desassossego, lágrimas que o definem, jorram fluentemente, descaindo num rosto desprotegido pela vida leviana que o tomou.

Prazeres promíscuos cultivados numa beleza desconcertante, destino que se prolonga numa existência infundada em volta do seu escárnio.

Sorrisos inocentes que se revelam, brotando em toques mordazes, despertando a vontade de sentir o que ainda não se sentiu.

Fragmentos de vida que se retratam em marés negras flutuam sem rumo.

Pensamentos incultos, numa vida mal fadada.

O pressentimento, o olhar que penetra e dilacera o sentimento mais fraco.

O amor, um desassossego.
by SummerParis

sábado, 29 de dezembro de 2007

Asfixia, Pedro Paixão


Não pensar, não prever, não analisar, agir. Agir. Num ápice saltei para a primeira fila e sentei-me na cadeira ao lado da tua. Olhava para a Andie MacDowell no écran esforçando-me para achá-la bela, a mais bela de todas as mulheres. Tu também não olhaste para mim, endireitaste-te na cadeira levantando ligeiramente o teu corpo magro, desajeitado. Eu disse: Agarra a minha mão. Por favor agarra a minha mão com a tua. Antes de te olhar, antes de descobrir a tua cara, os teus olhos, a tua perplexidadade, antes de te olhar pela primeira vez, antes de te olhar, antes de mais nada, agarra a minha mão. Recebe a minha mão. Dá-me a tua mão. E tu nao hesitaste e não perguntaste e não analisaste e não fizeste contas à vida. Sorriste só. A minha mão esquerda e a tua mão direita. Duas mãos segurando-se uma à outra. Duas mãos a dançar. A tua mão grande, os dedos compridos, esguios, firmes, a agarrarem a minha mão com força, a pegarem e a largarem e a apertarem e a sentirem suavemente a pele e a apertarem outra vez e a fazerem vibrar todos os nervos do meu corpo e a darem mil voltas por trás e pela frente e pelos lados, os teus dedos entrelaçados com os meus, a abraçarem, a colarem as nossas mãos. E depois as mãos soltas e os dedos a desbravarem os secretos caminhos entre as linhas da vida nas palmas das mãos e os braços e os antrebaços nus a acompanharem a dança. Sao precisos dois para dançarem o tango. Nao era uma valsa, nao. Era um tango. Um tango argentino dançado na perfeição pelas mãos de dois desconhecidos. Sem palavra alguma. Nenhuma era precisa. Dua mãos a dançar. Dois estranhos segurando-se pelas mãos. Duas mãos a fazerem amor. As mãos de dois estranhos faziam amor. As mãos faziam amor. Faziam amor.

(Excerto de "Mãos")