terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Ano novo, vida nova! Será?



















Pois é, ano novo, vida nova. Ou será ano novo, vida velha? Se calhar o conceito da “vida nova” devia ser atribuído apenas àqueles que estão de malas feitas para outro destino que não este Portugal senão vejamos.

Segundo os números do INE, a inflação já ia, em Outubro, em 2,4%, contra os 2,1% previstos no Orçamento de Estado de 2007. Deste modo se os salários e pensões, forem "actualizados" a 2,1%, estamos já a perder mais de 0,3%. Para este ano, o Ministério das Finanças repetiu o episódio dos 2,1% enquanto a realidade, indiferente, continua a ir (e ainda estamos em 2 de Janeiro) por aí fora. Já todos ouvimos falar nos aumentos no início do ano, aliás estamos de tal forma habituados a eles que quase já nem lhes damos a devida atenção. Aqui ficam os principais aumentos para 2008: transportes 3,9%, gás 3,6%, electricidade 3,6%, portagens 2,94%, pão 30%, leite 12% (...)

Tudo aumentos superiores ao valor da inflação, se calhar as principais empresas portuguesas fecharam o ano com saldos negativos e daí estes aumentos. Será? Lembrei-me de fazer uma pesquisa para aferir como tinha corrido o ano às principais empresas nas edições online dos principais jornais portugueses nomeadamente Jornal de Notícias, Diário Económico, Público e Jornal de Negócios. Cheguei a estes valores:

-Brisa regista lucro de 142,5 milhões de euros entre Janeiro e Setembro;

-A Galp Energia atingiu, nos primeiros nove meses de 2007, um lucro líquido ajustado de 377 milhões de euros;

-Lucro dos cinco maiores bancos soma 2200 milhões de euros sendo que o resultado líquido da CGD foi o mais elevado, de 675 milhões de euros;

-A EDP registou lucros de 665,2 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano;-

A Portugal Telecom registou lucros de 429,1 milhões de euros no primeiro semestre de 2007.

Humm.. não é que eu perceba muito de economia mas quer-me parecer que se calhar o ano deles não foi assim tão mau quanto isso.

Ontem o Presidente da República fez o discurso de ano novo descrevendo o ano transacto. Em relação à Economia disse, “O ano foi difícil mas todos gostaríamos que a evolução económica e social tivesse sido mais positiva”. Relativamente à Justiça continuou dizendo, “Ainda é um obstáculo ao progresso do país”. No que diz respeito à Saúde, “Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o país em matéria de cuidados de saúde”. Quanto ao Desemprego, “Atingiu níveis preocupantes. Muitas famílias enfrentam sérias dificuldades para fazer face às suas despesas”. Há uma expressão, que agora não me estou a lembrar, que consegue resumir todas as opiniões do Presidente, mas agora está mesmo a falhar-me... acho que tinha qualquer coisa a ver com “mas que bela merda de ano que tivemos!”. Sim, acho que era isso! Basicamente o único ponto positivo apontado foi a assinatura dum tratado que ninguém percebeu em que bases assentava, o tal Tratado de Lisboa. “Portugal saiu prestigiado da Presidência da União Europeia”.

Outro apontamento de Cavaco prende-se com a sua "inquietude" perante as desigualdades na distribuição do rendimento "Interrogo-me sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores". O licenciado em economia interroga-se... será mesmo verdade? Será que existe desigualdade na distribuição dos rendimentos? Fui novamente pesquisar. Segundo o Diário Económico: “Os 20% de portugueses mais ricos ganham, juntos, sete vezes mais que os 20% mais pobres. A média da União Europeia é de uma desproporção de 4,6 vezes. Portugal é o país com maior desigualdade entre ricos e pobres. Um quinto dos portugueses vive abaixo do limiar da pobreza. O documento subscrito salienta também que as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto nacional, pelo que o país tem a pior distribuição de riqueza no seio da UE com os 20% mais ricos a controlar 45,9% do rendimento nacional.”Oh Aníbal desculpa lá dizer isto mas sem querer ofender ninguém... e se te fosses foder mais essa interrogação? Se calhar o nosso Presidente da República interroga-se acerca da discrepância de rendimentos porque esquece-se que um desses rendimentos injustificados e desproporcionados também é o dele.

A questão é que todos sabemos que os sacrifícios duram há demasiado tempo e não é certo que algum dia atinjamos os níveis europeus. O ano é novo mas vamos continuar a ser o país da Europa com maior índice de abandono escolar, analfabetismo e corrupção.

Vá lá que este ano não vão faltar eventos de entretenimento. Temos já aí à porta o Lisboa – Dakar, depois o Rock in Rio, o Europeu de Futebol e os Jogos Olímpicos. Não faltarão oportunidades para nos sentirmos os “maiores desta merda toda!”.

Continuem a explorar-nos o mais que poderem, continuem a construir os maiores Centros Comerciais da Europa e a encerrar Maternidades, Serviços de Urgência, e Escolas. Em troca só pedimos uma coisa: que as lojas chinesas vendam a bandeira de Portugal por não mais que 2 euritos para em meados de Junho a colocarmos na varanda e gritarmos alegremente “Viva Portugal!”

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